Akinator assombrado

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"Se você é como eu costumava ser, você navega pela internet, esperando encontrar algo para fazer. É possível que seus amigos, de vez em quando, te mandem links para sites legais que fornecem felicidade ou risadas instantâneas. Um desses sites hospeda uma entidade virtual conhecida como Akinator. 

Eu já tinha ouvido falar nele, mas nunca tentei jogar até que um dos meus amigos me disse para fazê-lo enquanto estávamos em uma festa. Eu nunca vou esquecer aquela noite; foi a noite em que minha mente começou a desaparecer e decair na insanidade que agora a cerca. Eu nunca vou conseguir parar de achar que tem alguém atrás de mim por causa daquela coisa maldita, mas eu tenho que lidar com isso. Tenho que ser o mais forte que eu conseguir se quiser sobreviver. É só... Perturbador quando você sente constantemente que tem alguém te observando. Eu vou fazer o meu melhor para te contar, mas só porque eu quero que as pessoas saibam do horror que acabou com a segurança da minha vida.

Como eu disse antes, tudo começou numa festa, quando meus amigos me disseram para tentar jogar. Sem conseguir pensar direito, eu decidi jogar uma vez com eles do meu lado. Basicamente, o Akinator adivinha o personagem no qual você está pensando. Ele te pede para deixar o personagem, real ou ficcional, nos seus pensamentos, enquanto ele te dá uma série de 20 perguntas para que consiga adivinhar. Freqüentemente, ele acerta. Algumas vezes, você pode vencê-lo, mas isso não acontece sempre, ou, pelo menos, foi isso que meus amigos me disseram. Eu comecei com algo fácil; como eu e meus amigos estávamos meio doidões, nós pensamos no personagem que parecia mais engraçado na hora: Shrek. O gênio virtual adivinhou certo logo de cara, obviamente. Quanto mais conhecido é o personagem, mais fácil de adivinhar, eu acho. Porém, eu fiquei assustado com o quão rápido ele havia adivinhado. Meus amigos nem ligaram, mas, enquanto eu encarava o gênio, eu não pude deixar de notar que ele estava me encarado de volta. Meu olho tremeu, mas eu atribuí isso ao ar infestado de maconha. Eles estavam rindo uns para os outros enquanto eu olhava a tela como um cervo olha para faróis de um carro, mas suas piadas logo acabaram quando um deles virou para mim, perguntando se eu estava bem. Alguns deles riram, mas eu não os culpei; eles estavam altos como pipas na hora. Eu não virei para o meu amigo. Eu não respondi. Eu simplesmente continuei olhando para aquele gênio maldito. Ele nem era assustador ou algo assim, mas eu não desviei os olhos da tela sequer uma vez. Era como se eu estivesse hipnotizado. Finalmente, eu fechei o navegador e continuei a fumar, mas eu não conseguia tirar a imagem do Akinator da minha cabeça.

Na manhã seguinte, eu acordei no chão do meu quarto. Eu nem estava pensando sobre o Akinator, mas eu ainda me sentia mal por causa da noite anterior. Eu tossi muito, não conseguia ver direito e tive que me esforçar bastante para me manter de pé. Esbarrei no meu computador, e ele ligou. Antes mesmo que eu abrisse o Internet Explorer, uma prompt de comando se abriu no meu desktop. Ficou vazia por alguns momentos, e, então, uma frase inteira apareceu: “Vamos jogar alguma coisa. Pense muito agora.” As letras nem apareceram uma por uma como um computador faria; a frase toda veio de uma vez. Eu fechei rapidamente, sem pensar em nada. Eu achei que estava só vendo coisas, e que era só uma notificação normal. Eu abri a internet e chequei meu e-mail e o Facebook. Como não havia nada novo no Facebook, eu voltei para a aba do Yahoo! Mail. Mostrava que eu tinha três e-mails novos, o que era comum. Quando eu olhei melhor, vi que um deles era de um e-mail que parecia bem familiar: genie@en.akinator.us. Eu pesquisei, e um e-mail como esse não existe e nunca existiu. Começando a ficar preocupado, eu abri o e-mail. Não havia muita coisa, mas as poucas palavras que apareceram quase me fizeram pular da cadeira. “Tem certeza de que não quer?” estava sendo mostrado bem à minha frente. Então, eu me lembrei de alguns detalhes importantes: primeiro, eu nunca dei meu e-mail para o site do Akinator, e segundo, eu percebi o que a prompt de comando realmente queria dizer, e que eu não estava só vendo coisas. Sem aviso, eu acabei recuando, caindo da cadeira. Eu fechei o navegador, esperando que nada mais fosse acontecer. Não era grande coisa, sério. Eu poderia ter feito um novo e-mail, se quisesse. Algumas horas depois, depois de tomar um banho e ficar mais alerta, eu decidi voltar ao computador, pensando que o que tinha acontecido com o Akinator era ou uma piada, ou um erro. Eu abri a internet novamente, e fui ver se o meu amigo tinha postado alguma foto da festa. Eu digitei o endereço do Facebook na barra de URL no topo, mas, quando a página carregou, estava em branco. A URL ainda era www.facebook.com, mas não havia nada lá. Eu atualizei a página várias vezes, mas parei, achando que a minha conexão tinha caído. Porém, antes que eu fechasse o navegador, a URL desapareceu da barra. Um monte de letras aleatórias começaram aparecer, e a página do Akinator carregou. Ao invés de me receber com o típico “Olá, eu sou Akinator. Para começar um jogo, clique em jogar”, não havia balão de fala. O gênio só ficou me encarando até que finalmente perguntou, “Por que você está me ignorando? Eu só quero jogar.” Meus olhos se arregalaram, e eu fechei o navegador instantaneamente. Meu coração começou a bater mais rápido, e eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Com uma dor de cabeça, eu fui para a cozinha, tentando achar comida para tirar o Akinator da minha mente. Eu peguei uma maçã na geladeira e voltei para o meu quarto. Indo contra o meu bom senso, eu voltei para o computador, esperando que o Akinator fizesse alguma coisa com ele. Não aconteceu nada, e eu não tenho certeza do porquê. Talvez ele não esteja fazendo nada agora só para mexer com a minha cabeça de novo...

Eu naveguei pela internet por uns vinte minutos, achando que todos os traços que o gênio havia deixado tinham desaparecido. Eu estava completamente errado, claro. Enquanto eu checava meu e-mail de novo, meu screensaver apareceu do nada, mas tinha mudado. Ao invés dos canos 3D, ele tinha mudado para o de texto. As palavras lentamente vieram do lado direito da tela, quase como se o computador estivesse falando comigo. “Eu vou te encontrar. Por favor, jogue comigo. Você não vai me vencer.” Eu ouvi o que podia ser a sua própria voz ecoando na minha mente. Eu tentei fazê-lo ir embora fechando meus olhos, do mesmo jeito que meus pais me ensinaram quando eu era pequeno, mas, mesmo não podendo ver a tela do computador, as palavras apareciam nos meus pensamentos como o screensaver de texto. Akinator estava gravando sua imagem no meu cérebro, querendo ter certeza de que eu não me esqueceria que nunca estaria sozinho.

Coisas assim continuaram a acontecer no meu computador pelos próximos dias, se tornando cada vez mais invasivas na minha vida. As páginas em branco continuaram vindo no lugar das páginas reais, e eu continuei recebendo e-mails estranhos do suposto gênio. Ele tinha me bloqueado completamente do Facebook, e eu estava chegando a um ponto em que não conseguia mais agüentar as notificações que ele decidiu colocar no meu desktop. Eu estava perto de destruir meu computador, tentando me convencer de que eu precisava mesmo de um novo. Mesmo assim, eu ainda sentia que ele estava me seguindo. Ele continuava me dizendo que “queria jogar algo” e que eu “nunca conseguiria vencê-lo”. Ele até imprimiu uma “página de teste” que tinha alguns pedaços de seu diálogo escondidos e estranhamente espaçados na folha. Eu estava completamente apavorado, sem conseguir dormir à noite, e sempre imaginando que alguém estava me observando. Um dia, porém, eu dei um basta. Relutantemente, decidi jogar com ele só para ver se isso acabaria com tudo. Eu pensei num personagem que eu sabia que ele ia adivinhar corretamente: Alex DeLarge, de Laranja Mecânica. Eu digitei a URL do site do Akinator, e achava que nada ia dar errado, já que eu finalmente estava atendendo a seu pedido. A página começou a carregar normalmente, mas, subitamente, ficou preta. Uma imagem de uma caixa de som apareceu, indicando de que eu deveria aumentar o volume. Sem me importar com o perigo iminente, eu coloquei o volume do computador quase no máximo. Uma voz calma e profunda começou a falar comigo. Eu supus que quem estava falando era o Akinator.

“Olá. Está pronto para jogar?”, ele perguntou.

“Por que você está fazendo isso comigo? Por quê?”, eu respondi.

“Para ver se você é digno.”

“Digno de quê? O que poderia usar essa quantidade de torturas para determinar se eu sou “digno”?”

“Digno de entender.”

“Entender o quê, exatamente?”

“Que você não é o único aqui.”

“Bom, eu posso perceber isso agora, obviamente.”

“Não.”

“... O quê? Não?”

“Não. Inaceitável.”

“Que seja... Mas eu estou pronto para jogar seu jogo idiota.”

“Ótimo.”

“Se eu fizer isso, você vai parar de me atormentar? Por favor? Pelo amor de Deus, pare!”

“Eu já parei. Agora, você é o torturador e a vítima.”

“Mas o que isso significa?”

“Só você vai poder descobrir. Vamos começar.”

“Espera, O QUÊ?? Me diga!”

Ele não respondeu depois isso. A imagem do gênio lentamente apareceu na tela, rodeado pelo seu site. Tudo parecia normal, pelo menos, até o gênio virar seu rosto para mim. O balão de fala apareceu, mas estava em branco. Com o meu personagem na minha mente, eu comecei a responder às perguntas. Ocasionalmente, uma pergunta parecida com “Você me odeia?” aparecia, o que estava começando a me perturbar ainda mais. Eu não agüentava mais essa idiotice. Eu fui respondendo não, já que essa era a melhor coisa que eu achei que poderia fazer na hora. Depois de mais dez perguntar não-relacionadas, ele parou. O jogo acabou com ele clamando sua vitória, mas não que o jogo havia acabado. Ao invés do sorriso animado que vinha em seu rosto quando ele ganhava, havia apenas um sorriso maligno me encarando. O balão de fala apareceu, e, ao contrário da sua fala normal vir toda de uma vez, as palavras foram se formando letra por letra, quase como se ele estivesse falando comigo. “Eu venci, você perdeu. A vida é curta; tenha cuidado.” Nessa hora, a tela do meu computador ficou preta e uma mensagem de erro apareceu. Ela começou a se distorcer, estática alta começou a vir das caixas de som, e meu computador ficou com a tão falada tela azul da morte e desligou quase imediatamente. Eu estava tão acostumado ao medo que nem sequer recuei; eu só pensei sobre o que ele disse.

Eu não saí de casa desde esse dia, mas ainda me pergunto: por que ele fez isso? Será que ele só queria um amigo? Talvez ele estivesse cansado de ser usado só para a diversão dos outros? Eu nunca saberei e, sinceramente, não quero saber. Tudo o que eu sei é que eu vou comprar um computador novo, e que eu nunca mais vou me sentir sozinho, graças ao Akinator. Eu sempre vou olhar por cima do meu ombro. Eu fico sentado acordado na minha cama toda noite com os olhos arregalados, sabendo que alguém está me encarando e me observando. Alguém está observando."

Original: Creepypasta Wikia