quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Neve no Mt. Silver

Se você tiver algum creepypasta, mande para damasegames@gmail.com




"Então, meu irmão e eu meio que crescemos com Pokémon. Por aqui, isso aconteceu com muitas crianças. E isso funcionou perfeitamente conosco – sempre que uma nova geração saía, um de nós ganhava uma versão, e o outro ganhava a outra, e, já que nossa mãe gostava de nos mimar, a gente ganhava a terceira. Isso vai soar, no início, como uma história amarga sobre dois irmãos que crescem com alguns jogos que, eventualmente, os leva a tomar caminhos diferentes... Bem, é um pouco mais do que isso.


Os anos iam passando e nós continuávamos colecionando. Gameboys ficaram velhos; nós os substituímos. Os cartuchos finalmente saíram de moda, nós compramos cópias novas. Mas nós escolhemos dois caminhos completamente diferentes antes que R/S/E saísse. Sabe, foi por aí que meu irmão conseguiu um Gameshark. Nós tínhamos ouvidos sobre os hacks e cheats que você podia colocar no jogo, mesmo estando meio tarde para nos juntar ao grupo, e aquilo parecia ser muito maneiro.
Nossa primeira fita-cobaia foi a velha versão Blue do meu irmão. Nós só brincamos um pouco com ela, nada mais. Mas o que quer que tenhamos feito acabou estragando a fita completamente. Depois de colocarmos alguns códigos, ela simplesmente pifou e se tornou impossível de jogar. Naturalmente, nós ficamos chateados; meu irmão lamentou a perda de suas horas de trabalho, e eu simpatizei com ele. Eu lhe disse, “Está tudo bem, acho que nós podemos comprar uma nova. Esse gameshark foi um desperdício de dinheiro.”
Mas foi aí que nossos caminhos finalmente se separaram. Depois de ver o que havia acontecido com a Blue, eu me tornei contrária à idéia de hackear ou usar cheats em qualquer um dos meus jogos (O que posso dizer? Eu tenho sentimentos pelos pixels). Com aquele gameshark, pelo menos. Mas meu irmão havia visto a destruição de seu jogo como um desafio pessoal ou algo assim – acho que, a partir daquele dia, ele nunca mais jogou um game que não fosse hackeado de alguma forma. É, nós jogávamos muito Pokémon. Muito mesmo. Mas, para nós, não havia muito mais o que fazer; nós vivíamos numa área rural que não tinha muitas crianças, e os fazendeiros não nos queriam em suas propriedades, então... Nós jogávamos Pokémon no quintal de casa o dia todo, todos os dias. Era bem legal para nós, pelo menos. Nós perdemos o gameshark quando houve uma reforma em nossa casa. Houve uma adição a ela, e o aparelho desapareceu na pilha de coisas que foi colocada no novo armário.
R/S/E foram lançados, e, depois de zerarmos, nós dois chegamos à conclusão de que, comparados com a geração anterior, ainda lhes faltava muita coisa. Nós tentamos jogar de novo honestamente, e, mesmo terminando o game, ficamos com vontade de voltar à nostalgia dos velhos tempos. Onde estavam nossas fitas G/S/C, afinal? Levamos um mês para explorarmos as caixas que não abrimos antes por preguiça, mas finalmente achamos um bom número de nossos eletrônicos antigos: Meu velho Gameboy Color roxo ainda funcionava, o vermelho dele não conseguia mais segurar as baterias no lugar. No entanto, os nossos dois GBAs estavam bem, junto com nossas lanternas e os cabos link, aqueles com o conector no meio e que eu sempre guardei tão cuidadosamente para evitar estragar os fios e condená-lo par ao lixo, que nem aconteceu com nosso último cabo. Nós dois pegamos tudo o que podíamos. Era tão bom ter a Yellow (que foi meu primeiro e mais amado jogo de qualquer série, não só Pokémon) e a Red e a Gold de volta.
Nós checamos nossos velhos saves, lembrando de todas as velhas memórias, e, eventualmente, descobrimos que a geração 1 era nostálgica demais para se jogar no lixo. Eu reiniciei a Gold, ele reiniciou a Silver. Imediatamente, ele tirou o gameshark da caixa e colocou-o na parte de trás de seu GBA. Eu balancei a cabeça. Me lembro do que disse a ele.
“Sabe, essa coisa vai acabar com o seu jogo.”
Ele nunca gostou que eu lhe passasse sermão sobre “abusar de pixels”. Eu calei a boca depois disso, mas ele acabou não vindo jogar comigo. Acho que fui longe demais ou alo assim; eu devia saber como manter meus pensamentos para mim mesma, de verdade...
Aconteceu alguns dias depois.. Eu estava na varanda, o gameboy na mão, prestes a ir para a E4, quando percebi que eu precisava de uma ajudinha. Minha equipe estava mal equilibrada graças ao fato de que estava jogando só para me divertir, e na época eu não era uma grande treinadora que poderia upar com facilidade. Eu sabia que meu irmão estava duas insígnias à minha frente quando nós verificamos um com o outro pela última vez, então eu estava esperando que, talvez, ele me deixasse pegar um ou dois Pokémon emprestado, só dessa vez.
Agora, o ponto é que eu tinha passado as últimas 24 horas na casa de um amigo. Eu tinha, literalmente, chegado em casa, despejado a minha bolsa no meu quarto, e me arrastado para fora no sol com o meu GBA para jogar. Eu não tinha idéia do que ele estava fazendo. Pelo que eu sabia, ele tinha terminado o jogo e agora estava em outro. O que, eu achei, era melhor para mim, já que ele não precisaria dos Pokémon e eu tinha uma melhor chance de roubar alguns. Então eu me levantei e entrei na casa, e, quando estava atravessando a sala, notei todos os seus jogos de Pokémon espalhados pelo chão. Alguns dos cartuchos haviam sido danificados, como se tivessem sido cortados com algo afiado. Mesmo sua antiga Blue, morta há muito tempo e com valor sentimental demais para jogar fora, estava caída com o plástico cortado irregularmente, um lado quase completamente cortado, completamente inutilizável, mesmo se tivesse funcionado.
Eu estava um pouco assustada. Isso tinha de ter acontecido esta manhã, caso contrário, nossa mãe teria visto e eles não estariam obre o tapete. Colocando o meu GBA no bolso, arrastei-me até seu quarto e encontrei a porta destrancada. De alguma forma, isso foi ainda mais preocupante.

Eu entrei e encontrei o meu irmão sentado na beira de sua cama. Sua GBA estava em pedaços no chão a seus pés, aos pedaços. Ao lado dele, na cama, estavam um martelo e uma tesoura de jardinagem da nossa mãe. Seu rosto estava mais pálido do que eu já tinha visto, mais branco do que a vez em que fomos brincar e o velho da rua, cego e maluco, veio até nós e nos perseguiu até as árvores com uma espingarda. Foi aí eu também notei o gameshark no chão, e o canto de um cartucho prateado saindo de debaixo da cama. De alguma forma, eles haviam sido poupados da ira do martelo.

"Você está bem?", eu perguntei. Lembro-me dos arrepios que me percorreram. Ele era meu irmãozinho. Vê-lo assim era terrível.
"Foi horrível", lembro-me da voz rouca dele, e a forma como sua voz falhou fez meus joelhos tremerem. "Meu deus. Branco em todos os lugares, e depois PRETO... "

Lembro-me de correr até ele e abraçá-lo. E eu me lembro, seu braço caiu e tocou o Gameboy no meu bolso, e seu grito repentino, bem no meu ouvido, me fez pular e morder minha língua por acidente. Ele arrancou o portátil do meu bolso e atirou-o na parede. Eu gritei ao ver o amasso no plástico do sistema, correndo para buscá-lo. A tela estava negra, e embora eu temesse o pior quando mexi o interruptor, ele ligou normalmente. Esperei lá no canto, tentando fingir que o GBA importava o suficiente para eu não correr até nossa mãe.

O volume estava ligado.

O tema de Pokémon começou a tocar, e ele gritou de novo, pegando o martelo. Desta vez, eu gritei também, e saí correndo do quarto com o meu GBA agarrado ao meu peito como um escudo.

Ele acabou na ala psiquiátrica do hospital por dois dias. Quando fomos visitá-lo, deixei meu GBA em casa. Ninguém conseguia descobrir o que havia iniciado o seu comportamento estranho e maníaco. Houve uma conversa que eu não entendi na época sobre algum tipo de transtorno que ele poderia ou não ter, mas, mesmo minha mãe e eu tendo coletado e trazido em todas as fitas cortadas para ser olhadas (idéia da mãe, não minha), ninguém tinha sequer pensado em conectar o que evento com o jogo... Talvez tenha sido culpa minha. Eu não tinha dito uma palavra sobre o que tinha acontecido quando ele acidentalmente tocara o meu Game Boy, ou o terror cego para o qual ele tinha sido jogado quando a música começou.
Em minha última visita ao hospital antes da escola no segundo dia, eu fui deixada sozinha no quarto com ele enquanto minha mãe tinha uma conversa privada com o médico sobre as precauções a tomar no caso de isso acontecer novamente. Eu sentei em uma cadeira ao lado da cama, onde ele estava olhando para o teto. Mas, de repente, ele sentou-se, fazendo-me estremecer.
"Ei", ele me disse, "Angie. Vá ao meu quarto quando você chegar em casa."

Eu não entendi o que ele quis dizer, e então me lembrei das coisas que não haviam sido trazidas ao hospital... O jogo e a ferramenta de hack debaixo da cama.

"Livre-se deles. Eu nunca mais quero jogar com nenhum dos dois."

Sua voz estava tão cansada e desesperada... Ele parecia um velho em seu leito de morte. Meu pobre, machucado irmãozinho... Como eu poderia recusar?

"Prometa que vai se livrar deles."

"Certo. Eu prometo. "

Eu fui mandada para a escola mãos tarde, e, durante o dia todo, só tinha a minha promessa a ele na minha cabeça. Eu não sabia disso na época, mas esta seria a última vez em que eu poderia cumprir o papel de irmã mais velha e ajuda-lo. Eu precisava chegar em casa e me livrar daquele jogo... Mas, conforme o dia passava, uma curiosidade doente começou a passar pela minha própria cabeça. O que poderia ter acontecido com esse jogo que o assustara tanto assim? Eu mesma estava com medo, mas tinha de saber. Eu precisava.

Cheguei em casa e fui diretamente para seu quarto, empenhada em descobrir que horror estava esperando por mim. Minha mãe tinha aspirado desde o quarto, e a fita e o gameshark não estavam mais visíveis. Abaixei-me e arrastei-me para debaixo da cama, me sentindo tímida, mas usando a promessa que fiz como meu distintivo de coragem. Debaixo da cama havia poeira suficiente para me fazer tossir, vários legos velhos e tantos outros brinquedos que eu não podia colocar meu cotovelo no chão sem bater em alguma coisa. Mas, finalmente, vi os dois objetos. Eles haviam sido empurrados para um canto, para cima de um caderno que parecia novo demais para estar lá há muito tempo. Sem pensar, peguei um canto do papel e arrastei tudo comigo, ainda ofegando por causa da poeira (Alergias e tudo mais).
Eles pareciam tão inocentes, brinquedos simples e um alguns papéis reunidos por uma espiral. Quando coloquei a Silver e o gameshark no chão, dei uma olhada no caderno. Nele estavam rabiscados pelo menos vinte códigos diferentes, mas um tinha sido riscado com marcador sobre onde tinha sido inicialmente escrito a caneta. Isso era estranho. Ele REALMENTE tinha tentado apagá-lo - o marcador tinha sido pressionado contra o papel com tanta força que a tinta havia manchado a maioria das páginas atrás dela, quase dois terços do caminho até a contracapa. Mas a caneta tem uma maneira de estar sempre presente. Peguei o caderno e inclinei-o para trás na luz, e a superfície reflexiva do marcador revelou os traços que haviam sido deixados onde ele tinha escrito. O código era um conjunto incompreensível de letras e números, mas as palavras ao lado dele me intrigaram.

"Easter Egg – Neve no Mt. Silver"

Lembrei-me do que ele tinha dito quando eu o encontrei... Ele falou sobre branco, branco e, então, preto... Será que estava falando de neve? Mesmo que ainda fosse agosto e a temperatura ainda chegasse até os 32ºC todos os dias, um arrepio percorreu minha espinha. Será que deveria...?

Eu peguei tudo e trouxe para meu quarto, e coloquei no tapete à minha frente, com meu próprio GBA ao lado das cosas. Por um longo tempo, eu apenas olhei-o, e, quanto mais eu olhava, mais maníaco o rosto do Lugia se tornava no adesivo... Como uma espécie de sorriso torcido, me desafiando a descobrir o que havia acontecido com meu irmão. Eu era uma criança de 14 anos. Será que eu realmente queria abusar da sorte e correr o risco de acabar como ele? Eu olhei para o Lugia por mais algum tempo.

Eu precisava ver.
Eu tirei a Gold do meu GBA e coloquei a Silver seu lugar. Levei quase 15 minutos para me recompor e ligá-lo.

Começou normalmente. Eu deixei o som baixo, com medo demais do que eu poderia ouvir para mantê-lo no máximo, e curiosa demais para desligá-lo completamente. A tela de título também estava normal. Lugia apareceu novamente, mas, de alguma forma, ameaçador, apesar de meu bom senso me dizer que era exatamente a mesma imagem que apareceu em todas as outras vezes em que eu havia ligado o jogo. O quão ruim poderia ser? Foi o que eu me perguntei. A anotação disse que era um Easter Egg. Isso não significa que os códigos já estavam no jogo?
O menu apareceu... Ainda absolutamente normal. Seu personagem era Blake, com uma Pokédex quase completamente preenchida... Mas o tempo era estranho. 999:99. Eu sabia que ele não poderia ter jogado tanto tempo... Eu mal tinha 50 horas no meu próprio jogo e estava nz E4... E eu estava jogando lentamente. Provavelmente, era o resultado de seus cheats, ferrando seu próprio arquivo, eu pensei. Bem, que seja, então...
O jogo começou, e a primeira coisa que notei foi a prolongada tela preta. Demorou quase um minuto para mudar algo... E não havia nenhum som. Os cabelos na minha nuca estavam arrepiados, mas já era tarde demais para voltar.

Finalmente, um tipo bem vago de mapa apareceu na tela... Mas parecia cheio de estática. O que estava acontecendo? Eu olhei para baixo e percebi com uma pontada de medo que, na verdade, era o mapa do Mt. Silver... Mas o que eu achava que era estática era uma tempestade de neve. Portanto, este era o lugar onde ele tinha salvo o seu jogo pela última vez. Eu verifiquei seu time... Era bem normal para alguém que estava usando um Gameshark: Typhlosion, Feraligatr, Meganium, Pidgeot, Tyranitar, Lugia, todos nível 100 com ataques escolhidos a dedo... Típico dele. Algo sobre os sprites era... Estranho. Eles pareciam tristes, de alguma forma. Suas cores pareciam desbotadas, e suas expressões não tinham o vigor habitual. Eu associei isso a pixels faltantes ou algo assim, também devido ao hack...
O mapa iluminou-se apenas um pouco quando fechei o menu. Na verdade, a neve estava, de alguma forma, caindo mais fortemente; pixels dançavam pela tela tão rápido que era difícil ver o pequeno sprite que era personagem do meu irmão. Também havia algo esquisito sobre ele. Quando chequei suas informações, o estado era o mesmo dos sprites dos Pokémon, as cores eram pálidas. Na verdade, pensando agora, ele quase parecia congelado.

Meu estômago embrulhou, e eu me virei e tentei descer a montanha. Quando bati na parte inferior da tela, palavras surgiram, e havia, finalmente, um som - meu sprite batendo uma parede invisível.

"Eu não posso voltar agora."

Aquilo foi... Inquietante. Fui para os meus Pokémon e tentei usar a habilidade “Fly” do Pidgeot.

"Eu não posso voar nisso!", obviamente referindo-se à neve.

“Foda-se", pensei, abrindo a mochila. Havia uma Escape Rope. Eu tentei usá-la.

"Eu não posso mais voltar."

O que estava acontecendo? Mais uma vez, tentei caminhar para baixo da montanha, e, para meu horror, as palavras eram alteradas a cada tentativa.

"Eu não posso fugir."
"Eu não posso descer."

"Eu nunca mais posso voltar."

Esta última mandou uma sensação gelada pelo meu coração. Não havia como descer a montanha. Eu tinha que subir. Girando o pequeno sprite, eu o movi para a frente.

Nenhuma resistência, embora a minha velocidade de caminhada fosse estranhamente lenta. O que era verdadeiramente estranho era a falta de grama, de treinadores, de qualquer coisa além daquela neve branca, que ainda voava pela tela e tornava quase impossível enxergar.
Enquanto eu subia a montanha, sua velocidade de caminhada tornou-se mais e mais lenta. A cortina estática de pixels ficou mais grossa, e eu mal conseguia distinguir as características do mapa... Mas parecia que a única maneira de se mover era em frente, de qualquer forma. Eu alcancei o que parecia ser uma escadaria na extremidade superior da tela. Eu não me lembrava disso estando lá antes. Enquanto eu tentava me mover para cima, o pequeno sprite parou.

"Eu estou com frio."

Agora, eu estava tendo arrepios. Sua velocidade de caminhada tornou-se dolorosamente lenta, como se, de alguma forma, ele estava sendo impedido. Subindo a pequena escadaria...

Mais texto na tela.

"Meganium morreu."

Como assim, pensei. Pokemon não morrem nestes jogos. Eu verifiquei meu time, e fiquei assustada e confusa com o que vi.

O sprite de Meganium tinha sido substituído por um X vermelho Todos os meus outros Pokémo apresentavam diferentes graus de dano, embora eu não tivesse lutado sequer uma vez. Abri a mochila e achei um único revive, e tentei usá-lo.

"É tarde demais", o jogo disse. Que tipo de easter egg era esse?

Não havia muito mais que eu poderia fazer... Tentar voltar resultava nas mesmas mensagens de antes. Então, eu continuei me movendo.

"Pidgeot morreu."

Eu verifiquei novamente... De fato, lá estava o pequeno X vermelho. Desta vez, eu o selecionei e olhei para o Pokémon em si, tentando descobrir o que havia de errado... Eu queria não ter feito isso.
O sprite estava mutilado; partes dele estavam faltando. O que restou estava manchado com uma cor azul-acinzentada nauseante, e seu olho era um buraco completamente negro. Eu mudei para Meganium - mesma coisa, uma perna faltando, um pedaço do seu pescoço, a maior parte da cabeça, exceto o olho preto, morto.

Uma curiosidade mórbida me incentivou a continuar, e o caminho nunca se desviava do que ia diretamente para cima, no qual eu havia andado o tempo todo. Ao longo do caminho, de vez em quando, um outro Pokémon do time "morria" e uma checagem do seu sprite iria mostrava que ele estava na mesma condição que os outros. Tudo o que restara era o Typhlosion. Mais uma escadaria à frente. Eu subi-a, preparada para qualquer horror que me aguardasse.

Cheguei ao cume.

Estava deserto – Red não estava lá.

A neve havia parado de cair.

No centro do mapa, tinha algo saindo para fora da neve. Parecia uma Pokébola. Ok, talvez todas essas coisas medonhas fossem levar a uma batalha final e climática e usando o que quer que havia LÁ. Se eu pegasse, talvez Red saísse de seu esconderijo. Eu andei sobre ela para examiná-la, e houve uma explosão de ruído estático do meu jogo que me fez pular.

O que apareceu na tela foi uma animação de batalha, o sprite do meu treinador aparecendo, sua pele tingida azul... Contra outro sprite desfigurado de um Pokémon.

Era Celebi.
No centro do buraco negro que era seu olho, um único ponto vermelho queimava como uma brasa. A coisa parecia podre. Eu nem havia lançado meu Typhlosion quase morto quando ele usou um ataque.

"Celebi used Perish Song."

Um grito saiu do meu GBA, e eu quase o deixei cair quando a tela ficou branca. Uma parte de mim ficou aliviada, pensando que o meu Pokémon final havia sido nocauteado e que eu iria ser transportada para um Centro Pokémon... Mas eu estava errada. Meu sprite reapareceu no que parecia ser uma caverna; estava agora dentro da montanha? Eu verifiquei meu trainer card e me senti enjoada. O sprite estava tão deteriorado quanto os Pokémon; ele não tinha uma perna. Um único olho restava, negro e tão, tão triste, lágrimas brotando no canto... E todas as cores dele haviam sido substituídas por aqueles tons gelados nauseantes de azul e cinza. Todos os stats do cartão estavam reduzidos a 0, com exceção do tempo, que ainda era 999:99.

Eu rapidamente voltei para o mapa. Seu sprite imitava o horror que estava no trainer card; pedaços estavam faltando, tudo estava sem cor. Eu comecei a tentar andar, e de primeira, recebi uma mensagem.

"Está tão frio."

Havia apenas uma direção para ir - para cima. Eu segui em frente, e, de vez em quando, era interrompida por uma mensagem que fez meu coração doer mais e mais.
"Mãe..."

"Estou com tanto frio..."

"Eu não posso continuar..."

As paredes, enquanto eu caminhava, tornavam-se mais e mais escuras, até que estavam completamente negras.

Havia uma saída lá, marcada apenas por um contorno branco. Eu não tinha outra escolha senão atravessá-la.

Ela abriu-se em uma câmara, que também era branca... A única maneira de distingüir as paredes era uma linha cinza fina que as separava do chão. Contra a parede mais distante, havia um outro sprite. O sprite de Red. Intacto. Eu tinha chegado tão longe... Tinha que acabar com isto. Andei até ele e apertei A.

"..."

A batalha começou.

O sprite de Red não tinha nenhuma das deformidades que marcavam o meu. As cores eram os mesmos azuis e cinzas, mas ele estava intacto. Ele apenas parecia... Extremamente triste. Seu Pokémon foi primeiro; Venusaur. Seu estado era igual ao dos meus... Mas com nível 0, e um ponto de vida. Eu mandei Typhlosion, que tinha apenas 6 pontos restantes. Nenhum dos Pokémon fez um som quando foram lançados para a batalha.

"Venusaur used struggle!"

Não houve animação, apenas um ponto de dano para Typhlosion, e depois o sprite do  adversário caiu da tela.

"Venusaur morreu!"

Não havia nenhum texto me pedindo para mudar de Pokémon. Em vez disso, houve apenas o que eu considerei ser o diálogo de Red.

"..."
Seu Pokémon seguinte foi Blastoise, ainda mais mutilado do que Venusaur. Ele também usou struggle e morreu. Após cada turno, havia o sinistro "..." de seu treinador. Cada sprite era mais danificado do que o último, seu Espeon mal se distingüia como um Pokémon. Percebi que ele estava mandando-os fora de ordem, o que reservou um último Pokémon...

Pikachu foi lançado, e era grotesco. Ele, também, estava descolorido como se estivesse congelado. Uma orelha estava faltando, além de metade do próprio corpo e da cauda, sua cabeça estava quase intacta, mas seus olhos eram muito maiores do que deveriam ser, e ele olhava para mim com aquelas janelas negra para o inferno... Mas a coisa que me deixou mais perturbada foi o sorriso gigante que se estendia quase até os contornos de sua cabeça. De alguma foram, sua vida estava em 0, ou pelo menos, era o que parecia.
Minhas mãos tremiam. Eu não tive a oportunidade de atacar.

"Pikachu used Pain Split.”

"Pikachu morreu! Typhlosion morreu! "

A imagem do sprite de Red volto... E agora se parecia com o meu, com o corpo tão deformado que parecia uma carcaça despojada da maior parte de sua carne... Exceto que tinha os mesmos olhos perturbados e sem alma de Pikachu.

Eu finalmente havia entendido o que acontecera. Eles estavam mortos. Eles estavam mortos, e este subnível da montanha era o inferno no qual eles agora existiam.

Red finalmente falou.
"Acabou."

A tela piscou preta e branca por um momento.

"used Destiny Bond!"

Um horrendo som começou a ser emitido do meu GBA. A tela ficou branca e gritou para mim, e eu joguei o portátil no chão e apertou minhas costas contra a cama. O barulho horrível continuou por vários longos momentos enquanto a tela continuava branca.

Então ficou preta.

Então houve um silêncio.

Levei um bom tempo, mas finalmente me levantei. Peguei o gameshark. Peguei o caderno. Peguei o maldito jogo possuído. Peguei todos eles e levei-os até a lata de lixo que já tínhamos colocado para a coleta da manhã, no final da nossa calçada longa e sinuosa... E os joguei lá dentro. Quando voltei para casa, não sei o que me fez fazer isso, mas peguei a versão Yellow e inseri-a no meu Game Boy... Acho que foi parte de mim determinada a ter certeza se, de alguma forma, eu também não tinha sido contaminada.
A música começou. O jogo iniciou-se. Eu virei para meu Pikachu e apertei A.

Seu rosto sorridente cumprimentou-me com um movimento da orelha e um sorriso grande e pixelizado. Um sorriso agradável, normal. Desliguei meu jogo, e passei a hora seguinte chorando no chão.

Meu irmão e eu nunca mais jogamos Pokémon juntos novamente - ele desistiu de vez. Eu continei a jogar meus confortáveis jogos intactos.

Naquele inverno, a neve caiu grossa."

5 comentários:

  1. Muito bom.
    Estou seriamente pensando em escrever uma creepypasta sobre um jogo de celular que eu tenho. Se ficar boa, você aceita?

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  2. Mas é claro! Uma creepypasta nova é sempre bem vinda!

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  3. creepys de pokemon aaaaaaa *-*

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  4. Se não me engano você ja postou essa crepy

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  5. @Anon
    Também fiquei com essa dúvida, mas chequei a tag de creepypasta e ainda não estava lá. (:

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